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sábado, 28 de janeiro de 2012

A vida e morte de Joaquim

Dia desses enquanto caminhava pela cidade, encontrei um velho conhecido, Joaquim.
Conversamos sobre trivialidades, papo de amigos que não se esbarram há um tempo, assuntos que servem para dar brilho à antiga intimidade ofuscada pelo tempo sem contato. Convidei-o para dividir uma cerveja, descobri que ele não bebe.
Despedimo-nos, mas não sem antes trocarmos e-mails e pseudônimos que utilizamos nos nossos perfis em redes sociais. Fui para casa.
Continuei tocando os dias, agora com a presença de "Joaquim qualquer coisa Bukowski", uma efígie virtual que o Joaquim quer que eu engula como real, achei meio babaca da parte dele, mas levo a vida.
Idiossincrasias virtuais à parte, fui elogiar Joaquim por algo bacana -do qual não me lembro agora- que ele havia compartilhado. Me espantei com o pedido de que isso fosse feito publicamente, Joaquim me disse que preferia ser elogiado e gratificado por comentários que todas as pessoas pudessem ver, pediu também que eu curtisse, comentasse e que se possível, compartilhasse sua publicações.
Acho que é isso, sentimentos são abstratos, costumamos transformá-los em abraços, olhares, apertos de mão, beijos... Mas virtualmente tudo isso é traduzido em "curtir", "compartilhar" e "comentar", esse último demonstra também nossa inabilidade com as palavras.
Alguns meses passaram, foi engraçado assistir às incongruências políticas, ideológicas e morais de Joaquim, a horizontalização do conhecimento causa isso nas pessoas, você acha que sabe muito de tudo e quando menos espera, tropeça na poça da informação rasa, é um tipo de caxumba que pega a coerência, tira da cabeça e manda tudo pro saco.
O que interrompeu o acompanhamento que eu fazia do Joaquim foi o triste e inesperado fato de sua morte, fiquei triste -mas não muito-, vou dormir alguns dias com as luzes acesas -sempre faço isso quando algum conhecido morre-.
No mesmo dia recebi um convite para um evento, desses que as pessoas criam nas redes sociais, era para o velório e enterro do Joaquim... Não confirmei minha presença, afinal, ele não tinha muito o que me oferecer.