Dia desses enquanto caminhava pela cidade, encontrei um velho conhecido, Joaquim.
Conversamos sobre trivialidades, papo de amigos que não se esbarram há um tempo, assuntos que servem para dar brilho à antiga intimidade ofuscada pelo tempo sem contato. Convidei-o para dividir uma cerveja, descobri que ele não bebe.
Despedimo-nos, mas não sem antes trocarmos e-mails e pseudônimos que utilizamos nos nossos perfis em redes sociais. Fui para casa.
Continuei tocando os dias, agora com a presença de "Joaquim qualquer coisa Bukowski", uma efígie virtual que o Joaquim quer que eu engula como real, achei meio babaca da parte dele, mas levo a vida.
Idiossincrasias virtuais à parte, fui elogiar Joaquim por algo bacana -do qual não me lembro agora- que ele havia compartilhado. Me espantei com o pedido de que isso fosse feito publicamente, Joaquim me disse que preferia ser elogiado e gratificado por comentários que todas as pessoas pudessem ver, pediu também que eu curtisse, comentasse e que se possível, compartilhasse sua publicações.
Acho que é isso, sentimentos são abstratos, costumamos transformá-los em abraços, olhares, apertos de mão, beijos... Mas virtualmente tudo isso é traduzido em "curtir", "compartilhar" e "comentar", esse último demonstra também nossa inabilidade com as palavras.
Alguns meses passaram, foi engraçado assistir às incongruências políticas, ideológicas e morais de Joaquim, a horizontalização do conhecimento causa isso nas pessoas, você acha que sabe muito de tudo e quando menos espera, tropeça na poça da informação rasa, é um tipo de caxumba que pega a coerência, tira da cabeça e manda tudo pro saco.
O que interrompeu o acompanhamento que eu fazia do Joaquim foi o triste e inesperado fato de sua morte, fiquei triste -mas não muito-, vou dormir alguns dias com as luzes acesas -sempre faço isso quando algum conhecido morre-.
No mesmo dia recebi um convite para um evento, desses que as pessoas criam nas redes sociais, era para o velório e enterro do Joaquim... Não confirmei minha presença, afinal, ele não tinha muito o que me oferecer.
sábado, 28 de janeiro de 2012
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